O mês de novembro escancarou um período de intercorrências para uma parcela de trabalhadores na China, em consequência de tensões trabalhistas na cidade de Zhengzhou, onde está baseada a maior fábrica de iPhone do mundo, a empresa taiwanesa Foxconn.
Contexto
Diante do aumento dos casos diários de covid na China nos últimos meses, o país retornou a adotar medidas de confinamento massivo no país, alcançando nessa altura a fadiga da população diante das drásticas medidas de combate à doença já há quase 3 anos.
De maneira bastante arbitrária, a empresa Foxconn em Zhengzhou decretou confinamento compulsório para os trabalhadores dentro da própria fábrica, obrigando os trabalhadores a permanecerem nas dependências da empresa por tempo indeterminado.
Trabalhadores relataram que a empresa não estava confinando separadamente os funcionários que testavam positivo para covid, de modo que o vírus começou a se propagar internamente, causando medo e revolta.
Como consequência, cerca de 20 mil trabalhadores se demitiram do complexo industrial que, segundo fontes ouvidas pela Reuters, ainda não haviam começado as atividades na empresa.
Assim, incontáveis trabalhadores foram flagrados fugindo da empresa, ultrapassando as barreiras ao redor da fábrica e iniciando o trajeto de volta para suas casas mesmo a pé, como mostra a imagemhttps://twitter.com/stephenmcdonell/status/1586635368203358208?s=46&t=bGhkqL2vJ8VEh8_sNEi5zw
O que espanta é que, diante das dificuldades de transporte impostas pelo governo chinês no contexto do confinamento, muitos foram levados a enfrentar distâncias que chegavam a até 100km, devido ao afastamento de Zhangzhou de outras cidades.
Manifestações
Trabalhadores tomam as ruas de Zhengzhou para manifestar-se contra as rígidas medidas adotadas pela República Popular da China e pela gigante Foxconn.
Segundo relatos, alguns manifestantes chegam mesmo a pedir o fim do governo do Xi-Jinping.
Além disso, a população levantou a hashtag #FoxconnRiot nas redes sociais Weibo e Twitter para viralizar imagens e vídeos dos protestos, bem como das violências sofridas pelos manifestantes.
O governo, porém, censurou as publicações, ao que muitas mídias foram apagadas. Além disso, a polícia interveio violentamente contra os manifestantes, agredindo-os e utilizando gás lacrimogêneo contra eles: https://twitter.com/sac_diego/status/1595436454981046272?s=46&t=2_luSR1kb-EKgQ5rveN8Sw
Situação na Foxconn
Com a demissão em massa e com trabalhadores aderindo aos atos, a empresa abriu vagas de contratação e recebeu cerca de 100 mil candidaturas, segundo o jornal francês Les Echos.
Além disso, prometeu aos funcionários que iria quadruplicar os bônus recebidos pelo trabalho prestado, o que os trabalhadores denunciaram posteriormente que não estava sendo cumprido, com a empresa atrasando os pagamentos.
Com as atividades parcialmente paralisadas, a previsão foi de que a empresa teria uma retração de 30% de sua produção, segundo fontes anônimas para o site Reuters.
Ainda, com a Apple dependendo em grande parte da produção da sua terceirizada Foxconn, o fornecimento dos modelos de iPhone de última geração foi comprometido nas últimas semanas.
Antecedentes
Vale ressaltar que não é a primeira vez que a fábrica de Zhengzhou é palco de tensões trabalhistas.
Em 2010, 13 trabalhadores entre 17 e 25 anos tentaram cometer suicídio [LINK EL LA FRASE] na empresa - 10 deles acabaram vindo a óbito e 3 sobreviveram às fraturas. https://apjjf.org/-Jenny-Chan/3408/article.html
Em 2016, a organização China Dialogue expôs a exploração sofrida por estudantes estagiários da empresa que faziam horas extras ilegais, chegando a cerca de 12h de trabalho por dia.
Casos como esses corroboram para a imagem da China no que tange a ausência e a violação de direitos trabalhistas no país. Dessa forma, essa não é uma discussão nova.
O que se discute, agora, é a responsabilidade e o papel dos países parceiros da China, das empresas e consumidores internacionais na manutenção das relações com o país.
Há quem defenda que a China deva ser sancionada pela violação de direitos, outros defendem a liberalização do comércio. De toda forma, o nível de integração e dependência internacional do comércio chines, atualmente, faz com que qualquer postura adotada por seus parceiros tenha grandes consequências a nível comercial.