No dia 08 de outubro se comemora o Dia do Nordestino, dia em que se celebra a diversidade do povo dos nove estados que compõem a região Nordeste do Brasil. Neste ano, porém, a data teve um impacto muito maior e simbolizou a auto afirmação do povo nordestino após os acontecimentos sucessores do resultado do primeiro turno das eleições no Brasil.
A última eleição presidencial no Brasil ocorreu no dia 02 de outubro. Como resultado, haverá um segundo turno entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro (48,43% e 43,20% dos votos válidos, respectivamente). A diferença de 5,23% dos votos representa pouco mais de seis milhões de eleitores.
Durante a apuração dos votos, o candidato Bolsonaro esteve à frente na maior parte do tempo. Foi aos 70% das urnas apuradas que o candidato Lula tomou a dianteira. Esta virada se deu porque os estados das regiões sul, sudeste e centro oeste, onde Bolsonaro foi a preferência da maioria, tiveram seus resultados apurados mais rapidamente, enquanto as regiões norte e nordeste, que escolheram majoritariamente Lula, demoraram um pouco mais para a apuração dos resultados.
Apesar de Lula ter vencido nas duas regiões, foi no nordeste que o candidato obteve a votação mais expressiva. Na região, Lula recebeu 67% dos votos, contra 26,8% de seu maior concorrente, o atual presidente. Os eleitores nordestinos foram decisivos para que o candidato vá para o segundo turno na liderança. Este resultado, no entanto, foi recebido com gosto amargo pelos eleitores de Bolsonaro, que trataram de reproduzir o que seu candidato mais costuma fazer: proferir discursos de ódio.
A xenofobia contra nordestinos após as eleições vem se tornando comum, tendo acontecido também em 2014 e 2018. Vale lembrar que xenofobia é crime, previsto no artigo 140 do Código Penal. Incitar discriminação a nordestinos pode resultar em 1 a 3 anos de prisão, mais multa. Se o crime for praticado na internet, se torna qualificado e a pena passa a variar de 2 a 5 anos de reclusão, mais multa.
A enxurrada de mensagens ofensivas contra os nordestinos, compartilhadas nas redes sociais, iam de ataques à educação do povo da região à ameaças de morte, e foram endossadas por Bolsonaro em uma live no dia 05 de outubro, direcionada aos seus eleitores. O candidato associou a vitória de Lula na região às taxas de analfabetismo dos estados nordestinos. Bolsonaro afirmou, sem qualquer embasamento, que “esses estados estão há 20 anos sendo administrados pelo PT. Onde a esquerda entra leva o analfabetismo, leva a falta de cultura, leva o desemprego, leva a falta de esperança”.
O que Bolsonaro não comentou foi o fato de que durante os governos Lula (2003-2010), houve uma queda na taxa de analfabetismo em todos os estados do Nordeste. Por outro lado, durante o governo Bolsonaro (2019-2022), a taxa de analfabetismo no Brasil cresceu e é atualmente quatro vezes maior do que em 2018. Além disso, com o bloqueio no orçamento anunciado recentemente, o Ministério da Educação acumula quase R$3 bilhões bloqueados em 2022. Chega a ser irônico que o atual presidente fale sobre a falta de educação quando as suas políticas públicas mostram que a educação nunca foi uma prioridade de seu governo.
Apesar dos constantes ataques ao Nordeste, o dia 08 de outubro serve para relembrar ao povo nordestino a sua força, a sua resistência e a sua resiliência. A data celebra a região com as mais belas paisagens do país e que também é o berço da nação brasileira, e o seu povo alegre e perseverante, rico em cultura, com contribuições na literatura, na música e na educação, sendo o mais notável pensador da pedagogia mundial um nordestino de Pernambuco.