Rainha Elizabeth II: a morte de um ícone ou de uma vilã?

September 12, 2022
Opinion
Portuguese

Na última quinta-feira (08), faleceu Elizabeth II, a monarca com o reinado mais duradouro da História do Reino Unido. Com a sua morte veio uma onda de comoção da mídia mundial e de pessoas do mundo inteiro. Esperava-se tamanha cobertura sobre o falecimento da rainha britânica, mas chamou a atenção o excesso de compaixão e um esquecimento proposital do papel que Elizabeth II e sua herança monárquica teve no colonialismo, genocídio e saqueamento de riquezas, principalmente de países africanos.

Além de sua aproximação com governos ditatoriais, como o de António de Oliveira Salazar, o ditador português. Tendo assumido o trono em 1952, a rainha tratou de acobertar seu legado racista de colonização, além de nunca ter se desculpado ou ter reparado aqueles que sofreram com os feitos de sua família: vítimas violentadas, roubadas e traumatizadas. Dentre tais feitos, podem ser citados:

  • A East India Company e seu efeito direto no empobrecimento e na fome do povo indiano, lucrando massivamente em cima do país asiático, tanto que a Índia era chamada de “A Jóia da coroa do Império Britânico”.
  • A fome de Bengala em 1943, que matou mais de 3 milhões de pessoas.
  • A construção de campos de concentração no Quênia.
  • A aniquilação da Revolta Mau Mau no Quênia.
  • Genocídio contra populações nativas (na Austrália, por exemplo).

Vale ressaltar que grande parte da fortuna da Coroa Britânica foi obtida através do tráfico de escravos, apesar da família real nunca admitir publicamente este fato. O maior diamante lapidado do mundo, chamado de “A Grande Estrela da África”, de 530 quilates, foi extraído (leia-se roubado) da África do Sul em 1905 e seu valor estimado é de US$400 milhões; ele pertencia à rainha Elizabeth II.

Reforçando: não se deve esquecer das inclinações ditatoriais da agora falecida rainha. Por exemplo, o Apartheid que foi fortemente apoiado pela Inglaterra. A África do Sul tomou a decisão de deixar a Commonwealth (Comunidade das Nações) em 1961, mas os britânicos não deixaram de influenciar a política do país. Os sulafricanos se livraram dessa influência quando o regime do Apartheid foi dissolvido, ou seja, quando Nelson Mandela foi eleito presidente do país na década de 1990.

Apesar de ter se mantido publicamente distante, Elizabeth também deu a sua chancela para a Guerra do Iraque, como também, a participação das tropas britânicas na Guerra do Afeganistão, nesta última, os príncipes William e Harry serviram.

Quando perguntado qual o verdadeiro legado do reinado de Elizabeth II nos países que foram colonizados pela Inglaterra, que hoje vivem em clima de caos e insegurança políticoeconômica, apesar do tom de solenidade da mídia, o Especialista no Ensino de Geografia Glauber Guirra, respondeu:

“É um legado muito controverso. É inegável a importância da simbologia política em torno da Rainha Elizabeth no ocidente. Há um respeito grande por um reinado tão longevo. Entretanto, a admiração da coroa britânica nunca esteve plenamente com ela, mas, com a Princesa Diana que morreu tragicamente em um acidente de carro. Mas fora do mundo ocidental as coisas são bem diferentes. Sua primeira viagem para o continente africano foi pra legitimar e reconhecer o regime do Apartheid. Basicamente, todas as manutenções de poder das ex-colônias africanas britânicas sofreram para terem suas independências reconhecidas pela Rainha! Falar de monarquia é falar de violência, segregação racial e manutenção de privilégios. A morte da Rainha não resolve tais problemas, mas ela ajudou bastante na construção dos mesmos.”

Que a família possa lamentar a perda de um ente querido, mas que o mundo não romantize o falecimento de uma governante que teve ligação direta com o sofrimento e morte de milhares de inocentes para manutenção de seu poder imperial.

Fato curioso é constrangedor: o Brasil foi o único país, além das 15 nações da Commonwealth que declarou luto nacional pela morte da Rainha Elizabeth. Não houve a mesma comoção por parte do Presidente da República pelas mais de 700 mil mortes pela Covid-19.